Grimório da amizade astral
(a Theotonio Fonseca)
por Rogério Rocha
Encontrei-te na senda estreita,
com pó do chão e o verbo puro.
Celebramos na aurora dos dias,
os arcanos sigilosos da fantasia.
Tua imagem subiu arranha-céus
como vulto que escapa aos olhos
como runas banhadas no breu.
A canção da estrela exilada,
as luzes do templo dos aflitos,
seguem a bússola dos delírios
à busca de um nome preciso.
Teus poemas são mantos de caos
que vibram nas dobras do mundo
quando clamam às forças abissais
soníferos mais fortes e profundos.
Teu silêncio é um grimório perfeito,
gravado com as tintas da existência.
Com os olhos, sorris para o abismo,
com as mãos, santificas a presença.
Vi tua aura andar sobre as marés,
nas massas líquidas pousarem teus pés.
Vi tua letra incognoscível
escrever meu nome sem que o dissesse.
Pelas asas de Mercúrio,
pelo fogo de Azoth,
mesmo que um dia
nos apague o mundo,
restará na história
a amizade como norte.
E assim sigo contigo,
irmão do verbo e do véu.
Estrela de brilho extremo
do universo em desencanto:
na carne da palavra e
nos lampejos do mistério.
Nascido em São Luís/MA, Rogério Rocha é professor, poeta e produtor cultural, pós-graduado em Direito Constitucional (Universidade Anhanguera-Uniderp), pós-graduado em Ética pelo IESMA, graduado em Filosofia (UFMA), bacharel em Direito (UFMA) e mestre em Criminologia pela Universidade Fernando Pessoa (Porto/Portugal). É membro da Academia Poética Brasileira, da Academia de Letras, Artes e Ciências do GOB-MA e da Academia Maçônica de Letras do Maranhão. Exerceu a advocacia, foi assessor jurídico e é servidor público do Poder Judiciário do Estado do Maranhão.
É fundador e coordenador dos projetos INICIATIVA EIDOS e DUO LITERA, que trabalham com eventos nas áreas de filosofia e literatura.
É autor dos livros de poemas “Pedra dos Olhos” (2020) e “A linguagem da ausência” (2024). Foi o segundo colocado no Concurso Gonçalves Dias, na categoria Poesia, no ano de 2019, e selecionado na categoria Crônica, na mesma premiação, em sua edição do ano de 2020.
Produz vídeos para o canal Hipertexto, no YouTube, onde apresenta conteúdos sobre cultura em geral.
*********
O poema “Grimório da Amizade Astral”, de Rogério Rocha, é uma oferenda literária de rara beleza e profundidade espiritual. Em seus versos, o poeta ergue uma ponte entre o visível e o invisível, entre o humano e o divino, tecendo um cântico à fraternidade mística que une os que caminham pelas sendas do verbo e da transcendência.
A metáfora do grimório — livro de saberes secretos — funciona como eixo simbólico: nele, a amizade se torna escritura sagrada, revelação e rito. Cada estrofe pulsa como um encantamento hermético, onde o “verbo puro” e o “pó do chão” coexistem, reconciliando o celeste e o terreno, a palavra e o silêncio. Rogério Rocha não apenas presta uma homenagem, mas recria poeticamente a comunhão de dois buscadores que se reconhecem na luz e na sombra da mesma jornada interior.
A musicalidade, a imagética alquímica e a densidade simbólica do texto revelam um poeta que domina o mistério e o transforma em verbo iluminado. “Pelas asas de Mercúrio, pelo fogo de Azoth” — invoca o autor —, reafirmando a tradição hermética que anima os que buscam o conhecimento através da arte e da palavra.
Com profunda admiração e sincero afeto, manifesto minha gratidão ao amigo e filósofo Rogério Rocha por esta homenagem que transcende o elogio e se faz ritual de reconhecimento entre espíritos afins. “Grimório da Amizade Astral” é mais que um poema: é um selo de irmandade no templo da linguagem, uma epístola escrita com luz antiga e devoção à arte.
Theotonio Fonseca é professor, Poeta, escritor e advogado. Foi membro consultivo da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil e da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA, e atualmente compõe a Comissão de Advocacia Criminal da OAB/MA.