Naqueles tempos que moram na saudade, as danças das festas juninas transformavam Itapecuru Mirim num cenário de encantos. As mulheres, com seus vestidos de chita rodados, e os homens, de calças jeans remendadas e camisas quadriculadas, compunham o figurino colorido das quadrilhas matutas que faziam brilhar o São João de Itapecuru.
As mulheres, com seus vestidos de chita rodados, e os homens, de calças jeans remendadas e camisas quadriculadas, compunham o figurino colorido das quadrilhas matutas que faziam brilhar o São João de Itapecuru.
Itapecuru-Mirim já foi palco de quadrilhas juninas que se enfrentavam em animadas disputas — não pelo luxo, mas pela melhor coreografia — na busca pelo título de melhor quadrilha da cidade. Lá por meados de maio, já se podia ver, pelos becos e vielas dos bairros, jovens alinhados em pares, ensaiando passos para o São João, que nem tinha lá grandes estruturas, mas arrebatava corações na praça Gomes de Sousa, onde o povo ia em peso prestigiar o evento.
As famosas quadrilhas: do Mercado, das Malvinas, da Aviação, da Torre, do Kelé e da Miquilina eram algumas das mais aguardadas durante as festas. Naquele tempo, chamava-se apenas quadrilha, sem o adjetivo “junina”.
Entre os grupos que mais se destacavam, estava a Quadrilha Festança na Roça, a qual era uma continuação da Quadrilha Periquitos na Manga, do grupo TEIT. Nas roupas dos brincantes, não havia seda, organza, pedrarias, paetês, rendas, tules ou bordados. Havia, sim, um bando alegre, vestido da forma mais caipira possível, animado, com passos bem ensaiados ao som do comando firme do marcador.
Certa vez, o grupo TEIT ousou inovar. No São João, a Quadrilha Festança na Roça levou para a avenida — pois nesse tempo não havia tablado — a banda Rasga Sunga, que tocava músicas ao vivo. E ali, naquele instante vibrante, já não se falava mais em disputa. O que se via era pura alegria e o prazer genuíno de fazer cultura no município.
Um detalhe à parte era o casamento. No meio da apresentação, a quadrilha parava para encenar a cerimônia. O público gargalhava com os diálogos encenados por Allison Rilktt, Claudionor e outros integrantes do elenco.
Hoje, quem ainda mantém viva a tradição do casamento matuto é a quadrilha Rosas de Ouro, conduzida pelo agente cultural Zeca da Cultura. Só que, agora, a brincadeira trocou a chita pelo brilho luxuoso das quadrilhas estilizadas, e outras adaptações temáticas foram incorporadas ao espetáculo.
Infelizmente, as quadrilhas matutas estão desaparecendo a cada ano que passa, assim como a dança do São Gonçalo, que hoje apenas poucas comunidades mantêm viva a tradição de rodar diante do santo sem jamais lhe virar as costas.
Quanto à Quadrilha Festança na Roça, deixo aqui esta singela e afetiva homenagem. Uma memória que a imprensa da época não chegou a guardar em suas páginas amarelecidas, mas que persiste viva na lembrança de quem reconhece a importância da cultura de um povo — e insiste em não deixá-la morrer.
Samira Fonseca - Mestra em Literatura pela Universidade Federal do Tocantins e Ocupante da cadeira n° 33 da Academia Vargem-Grandense de Letras e Artes.