Os talentos que nascem no seio das comunidades remanescentes de quilombo itapecuruenses são múltiplos, conhecê-los e valorizá-los é prestigiar histórias por vezes invisibilizadas pelo racismo estrutural que perpassa nossa sociedade.
As políticas públicas precisam assumir em sua construção o fomento à economia criativa, resgatando e incentivando as potencialidades artísticas, culturais e esportivas nascidas por vezes em situações adversas da experiência humana.
Um exemplo da riqueza de nossas comunidades está nas pinceladas de José Antônio dos Santos, jovem de 29 anos, que nasceu em Itapecuru - Mirim em 20 / 09 / 1991. Neto do líder quilombola do Oiteiro dos Nogueiras, Luciano dos Santos, cresceu naquela comunidade e em 2011 mudou-se para São Paulo à procura de oportunidades de trabalho, residindo hoje em Campinas, onde trabalha como gasista na empresa Comgás, mas sem abandonar o sonho de tornar-se Design de Moda, faz cursos livres na área e produz seus croquis, divulgando-os seu junto a amigos e conhecidos.
Em entrevista para a Revista Raça em outubro de 2017, a designer baiana Goya Lopes afirmara: “A moda afro-brasileira ainda está muito longe de ser aceita dentro de um processo, porque ela exige uma produção, uma promoção, uma resposta positiva da mídia. A moda da diáspora étnica, da matriz africana, no mundo inteiro não tem essa resposta. Não é só a questão do trabalho, do talento, mas ela tem que ter uma resposta positiva em se tratando de resultado de venda, de mercado e de aceitação da mídia. ”
Essas dificuldades são conhecidas por José Antônio, mas não o fazem desistir do sonho de construir uma trajetória profissional no difícil mercado da moda, recentemente concorreu em um concurso para passista de escola de samba em São Paulo, mas o mesmo foi cancelado em face da pandemia.
Sem esquecer sua comunidade idealiza junto ao grupo de Mulheres pretas e quilombolas Rosas Negras um futuro desfile, valorizando a beleza negra, com peças produzidas na própria comunidade por costureiras locais. Projetos como este, que fomentam a economia solidária e criativa são expressões que reclamam o apoio do poder público e da iniciativa privada.
*Theotonio Fonseca é professor, poeta, escritor, Bacharel em Direito e Pós Graduando em Direito Tributário pela PUC/MG.
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